ALDEIA DE GRALHAS!... APROVEITE, E CONHEÇA A HISTÓRIA, USOS, COSTUMES E TRADIÇÕES DESTA ALDEIA DE BARROSO...

- ORGANIZAÇÃO SOCIAL E COMUNITARISMO

A organização social, o clima e a morfologia do solo, condicionaram claramente e desde sempre, as actividades rurais da população de Gralhas, que viveu durante anos, entregue às suas tradições mais antigas, algumas das quais perduraram até hoje.
A base dessa organização, até meados do século XIX, assentou na «assembleia» dos representantes das várias famílias da povoação, que reúnia com uma certa periodicidade, junto à Capela de Santa Rufina, quando tal era necessário.
Essa assembleia, chamava-se Junta, Acordo, ou Conselho e foi herdeira do antigo conventus publicus vicinorum (assembleia pública dos vizinhos) do reino visigótico. Era nessa «assembleia» que se analisavam até à exaustão, os problemas que a todos diziam respeito, e se decidia, por vontade expressa da maioria, as soluções a adoptar.
A Junta era a mais perfeita expressão da Democracia Popular. Essa assembleia, foi dirigida até aos primeiros anos do século XX, por um «Juiz», «Zelador», «Juiz de Vintena», «Procurador», «Mardomo» ou «Chamador», e a partir daí, até meados dos anos setenta da mesma era, pelo Regedor ou Presidente, o primeiro escolhido pelo povo da aldeia e o segundo pelas corporações concelhias, afectas ao regimo tatalitário da II República.

Os Regedores nomeados, eram pessoas respeitadas da aldeia e totalmente independentes das autoridades administrativas oficiais e quando da escolha, tinham a obrigatoriedade de permanecer no cargo, por um periodo minimo de 6 meses. Não eram remunerados, nem tinham qualquer tipo de previlégios pelo seu desempenho. O último Regedor da freguesia, foi António Fernandes Chaves, mais conhecido pelo «Pistão».
A estes homens, competia convocar a «assembleia», o que era feito normalmente, através do toque do sino da Capela (Santa Rufina), e verificar as presenças e as ausências, dos cabeças-de-casal. Aquele que sem justificação, não estivesse presente, era como que «excomungado» pela população, já que a todos era exigida a presença, fosse para o bom ou o mau.
Após a verificação das presenças, apresentavam-se então os assuntos a tratar. Todos em conjunto, ou individualmente. Eram calorosamente discutidos, chegando-se sempre a uma solução prática, de acordo com a vontade expressa da maioria. Em caso de empate, cabia ao «Juiz» tomar a decisão.
Eram muitos e variados os assuntos que se apresentavam à «assembleia» e esta tinha obrigatoriamente de encontrar soluções, para cada caso concreto, designadamente, no que dizia respeito à reparação e abertura de caminhos, organização da vida pastoril, distribuição das águas de rega, locais de roça, limpeza das igrejas e das poças, carretos para o povo e tantos outros trabalhos necessários à comunidade.
Esta tipo de organização durou séculos e passou de geração em geração através dos usos e costumes da terra.
A partir dos finais da década de setenta, do século passado, este tipo de organização social, foi substituída por uma espécie de «Conselho Dominical», cujos moldes de funcionamento eram muito semelhantes, senão vejamos: No final das missas de domingo, era recomendado a todos os aldeões presentes nas mesmas, de que deverim «esperar» (aguardar), normalmente no largo fronteiriço à igreja e às cortes do boi, onde teria lugar uma «reunião», para decidir sobre determinado assunto.
Estas reuniões, eram «presididas» pelo Presidente ou Secretário da Junta, a quem competia colocar as questões em discussão e avaliar as respectivas votações. À semelhança do que acontecia no passado, nada ficava escrito e o registo das decisões tomadas, ficava no subconsciente de cada um, que as acatava.Actualmente, este método caíu quase em desuso. O Conselho Dominical, poucas vezes vai a votos e foi substituído pela moderna Assembleia de Freguesia. A coberto de tal modernidade e amiudadas vezes, os senhores Presidentes cedem à tentação fácil de decidir, sem ouvir o povo e de o informar, preferindo afixar papéis em determinados locais, que poucos se dão ao trabalho de ler.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")

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