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- AS SEGADAS

A «segada», era um dos ditos trabalhos, que marcava particular relevo na mente dos meus conterrâneos. Como todos os outros, era tudo feito manualmente, o que obrigava, a que fosse preparada e anunciada quase ao milimetro e com a devida antecedência.
Os convidados, constituídos normalmente por familiares e amigos próximos, precaviam-se com gadanhos (foices) novos, que adquiriam normalmente em Espanha e apresentavam como autênticos troféus. Face ao previsível número de «pousadas (número de molhos) a colher», era necessário calcular o número de pessoas necessárias, de entre seitoiras (segadores) e atadores, para que tudo decorresse, entre um, dois ou o máximo, três dias, tanto mais que havia outros vizinhos em «fila» de espera.

Chegado o dia, era um «ver se te avias»!... Desde o nascer ao pôr do sol, apenas com interrupções para o mata-bicho (pequeno-almoço) e jantar (almoço), os quais tinham lugar em determinada leira (terreno) previamente definida, os segadores, percorrendo fazenda a fazenda, erradiavam uma alegria constante!... Faziam-se «apostas», discutia-se o número de regos (sulcos) que cada um segava, quem era o melhor segador, quem atava melhor, «arranjavam-se» namoricos e no final, o momento esperado: o recolher dos molhos para a roda (circulo) - feita normalmente no meio da fazenda -, onde ficavam sobrepostos uns sobre
os outros, com as espigas de fora e ao sol, para uma melhor maturação e a feitura do ramo (arranjo feito em cruz) da segada, que depois era transportado por um dos segadores, que em conjunto com todos os demais, entoavam cânticos, até à porta do «patrão», a quem o entregavam para exposição pública (normalmente feita nas varandas das habitações) e protecção divina. Como agradecimento pelos cânticos e pelo terminar do trabalho, era então dado de beber (vinho) aos segadores, através de um pipo (barril em miniatura), que circulava de boca em boca.
Seguia-se a ceia (jantar), que normalmente se prolongava até altas horas!... Aí esgrima-se de tudo um pouco... Se a leira «A», dera muito pão (centeio) ou pouco; se a leira «B», tinha dado mais pousadas ou menos, que o ano passado; se determinada leira do fulano «A», é melhor que a do fulano «B», enfim... todo um corropio de assuntos, cujo pano de fundo, era sempre o mesmo... a competição entre lavradores.
Finalmente e após mais alguns «copos» para retemperar as energias, era chegada a hora da deita...É que no dia seguinte, repetindo-se o figurino, o «patrão» dava em «empregado»... e havia que levantar cedo.


Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra Minha Gente"

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