As «Chegas» ou «Liadas» de bois, são uma antiga tradição das terras de Barroso e em particular da aldeia de Gralhas, por onde passaram muitos campeões e onde nos dias de hoje, pese embora as mudanças ocorridas, são ainda levadas muito a sério.
Num passado não muito distante, cada «Chega», era um dia de festa, ou de tremenda amargura e tristeza, para os habitantes da aldeia. O principal protagonista, era sempre o «boi do povo». O «boi do povo» era um bem comunal e alimentava-se normalmente nas lamas (pastos), que pertencem ainda hoje a toda a comunidade. Cerca de meio ano, antes da participar em qualquer duelo, recebia ainda, feno, centeio, batatas, nabos, beterrabes e todo um conjunto de géneros, que eram oferecidos por todos os aldeões, para complemento da sua alimentação e respectiva engorda. Pernoitava numa casa (corte), que fazia parte igualmente, do património de todos. Anualmente e por uns tantos alqueires de centeio, um pastor «arrematava» a guarda e o tratamento do animal, de quem passaria a cuidar. Quando o animal chegava à idade adulta (cinco ou seis anos) tornava-se no orgulho da aldeia, sendo por isso, motivo de acesas discussões entre os habitantes de povoações vizinhas, com cada um a defender a maior pujança do seu animal.
Num passado não muito distante, cada «Chega», era um dia de festa, ou de tremenda amargura e tristeza, para os habitantes da aldeia. O principal protagonista, era sempre o «boi do povo». O «boi do povo» era um bem comunal e alimentava-se normalmente nas lamas (pastos), que pertencem ainda hoje a toda a comunidade. Cerca de meio ano, antes da participar em qualquer duelo, recebia ainda, feno, centeio, batatas, nabos, beterrabes e todo um conjunto de géneros, que eram oferecidos por todos os aldeões, para complemento da sua alimentação e respectiva engorda. Pernoitava numa casa (corte), que fazia parte igualmente, do património de todos. Anualmente e por uns tantos alqueires de centeio, um pastor «arrematava» a guarda e o tratamento do animal, de quem passaria a cuidar. Quando o animal chegava à idade adulta (cinco ou seis anos) tornava-se no orgulho da aldeia, sendo por isso, motivo de acesas discussões entre os habitantes de povoações vizinhas, com cada um a defender a maior pujança do seu animal.
Estas discussões, terminavam irremediavelmente numa luta entre os animais - as chamadas «Chegas» ou «Liadas» - que visavam distinguir o campeão. Por vezes, fazia-se alguma batota!... Como funcionava? Antes da «Chega» aprazada, promovia-se um confronto preliminar entre os dois contendores, feito sempre às escondidas e normalmente em noites de luar. Para que isso acontecesse, o «boi do povo» de uma aldeia, era raptado, uma tarefa nem sempre fácil, quer pelos cuidados que cada pastor e a respectiva comunidade colocava na sua guarda, quer pela bravura do próprio animal, que geralmente se tornava agressivo face a desconhecidos, quer ainda, porque perante uma situação desse tipo e caso o raptor ou raptores fossem detectados, se sujeitavam a ser severamente maltratados, ou mesmo mortos, já que era colocada em causa, a honra e a dignidade dos intervenientes.
Há mesmo exemplos, cujas marcas deixadas, são profundas. Em alguns casos porém, havia conivência entre os tratadores das duas aldeias, que decidiam confrontar os animais para atestarem se estavam prontos para poderem realizar a «Chega» pública, de forma a que esta não resultasse num fiasco. Caso o resultado fosse positivo, estavam então reunidas as condições para a realização do confronto, o qual devia ser acordado seguindo um certo ritual: os «rapazes» - mais maduros e badolas - de uma aldeia dirigiam-se, geralmente ao domingo, à aldeia que pretendiam desafiar. As regras do jogo exigiam que o desafio não fosse directo. Os visitantes deviam referir, de uma forma evasiva à juventude visitada, a possibilidade da «Chega», ao que os estes deveriam responder da mesma forma, mesmo que o seu «boi do povo» fosse o campeão coroado em outros confrontos.
O passo seguinte dependia da aldeia desafiada, tanto mais, que a decisão a tomar, fazia parte da tradição comunitária, o que significa, que dependia da realização de um escrutínio, normalmente feito de braço no ar, no domingo seguinte, à saída da missa e após a comunicação do desafio, feita pelo Presidente da Junta. Neste escrutinio, era sempre exigida uma maioria absoluta, caso contrário, gorava-se a hipótese da realização da «Chega». Se o desafio fosse aceite, os responsáveis das duas aldeias, iniciavam então os planos para a realização da festa, que devia acontecer em data aprazada, passado que fosse um periodo, que oscilava entre os quatro e os seis meses e a meio caminho entre as duas povoações.
O passo seguinte dependia da aldeia desafiada, tanto mais, que a decisão a tomar, fazia parte da tradição comunitária, o que significa, que dependia da realização de um escrutínio, normalmente feito de braço no ar, no domingo seguinte, à saída da missa e após a comunicação do desafio, feita pelo Presidente da Junta. Neste escrutinio, era sempre exigida uma maioria absoluta, caso contrário, gorava-se a hipótese da realização da «Chega». Se o desafio fosse aceite, os responsáveis das duas aldeias, iniciavam então os planos para a realização da festa, que devia acontecer em data aprazada, passado que fosse um periodo, que oscilava entre os quatro e os seis meses e a meio caminho entre as duas povoações.
A escolha do terreno, era também motivo de discussão, já que apesar da «Chega» ter obrigatoriamente de se realizar em terreno neutro, o tipo de piso era muito importante para o desenrolar do confronto. As técnicas eram as seguintes: Os proprietários de um animal jovem, tentavam que a escolha recaísse sobre um piso duro, enquanto que os donos de um animal mais velho tentavam assegurar um piso mole, menos desgastante para o seu boi, que geralmente era mais pesado.O meio termo, acabava quase sempre por prevalecer. Outro dos assuntos a negociar, prendia-se com os cornos do boi!... Havia que se decidir, se as suas pontas se afiavam ou não, se podiam ser introduzidas pontas de aço, ou até o enxerto de pontas de cornos, quando o animal estava mal servido delas. Posteriormente e após «celebração do acordo» ocorriam ainda muitos outros rituais, tais como rezas, superstições, saberes ocultos e mezinhas, que poderiam contribuir para um desfecho favorável. Até as mulheres levantavam saias e saiotes vermelhos, para incitar o boi.
Definido então o local da «Chega» e as condições em que a mesma iria decorrer, era então necessário, tratar da respectiva autorização junto das autoridades concelhias, bem como da presença de alguns Guardas no local da contenda, como forma de prevenir potenciais desacatos, o que nem sempre era conseguido, face à emoção gerada em torno de cada um dos animais. Quanto às despesas, que daí resultavam, eram normalmente suportadas, em partes iguais, pelas partes envolvidas.
Chegado então o dia aprazado, os dois bois, são conduzidos ao local do «combate», pelos seus tratadores munidos de varapaus, onde são colocados frente a frente. Invariavelmente, o campo de «batalha» está a abarrotar de gente, quer se trate de pessoas oriundas das aldeias dos bois em presença, quer de curiosos de outros lugares das cercanias, que vibrando com acontecientos deste tipo, acorrem ao chamamento de uma festa ímpar na região e que toca no subconsciente de homens, mulheres, jovens e menos jovens. Uma vez na presença um do outro, os animais «medem-se», sob o olhar atento do público presente, que de imediato toma partido, apoiando o seu favorito. Este é o momento em que se destacam os incitamentos das duas comunidades em confronto, que se revêem nos seus «bois do povo». Os dois possantes machos rapidamente se enfrentam.
Segue-se uma luta indescritível de jogos de cornos e marradas, corpos a vibrar até ao extremo, luta sangrenta de carreiros de sangue na disputa, que vai marcar a distinção entre vencido e vencedor. Por alguns momentos descansam, voltam a investir, afastam-se, voltam a lutar, entrelaçam de novo os seus cornos uns nos outros e empurram-se mutuamente e com violência, mostrando cada qual a sua força e a sua bravura.
Segue-se uma luta indescritível de jogos de cornos e marradas, corpos a vibrar até ao extremo, luta sangrenta de carreiros de sangue na disputa, que vai marcar a distinção entre vencido e vencedor. Por alguns momentos descansam, voltam a investir, afastam-se, voltam a lutar, entrelaçam de novo os seus cornos uns nos outros e empurram-se mutuamente e com violência, mostrando cada qual a sua força e a sua bravura.
A «Chega» pode ser rápida ou prolongada, dependendo essencialmente do gabarito dos contendores. Em qualquer dos casos, o entusiasmo dos assistentes é indiscritível. O seu final pode acontecer quando um dos bois abandona o «combate» fugindo em debandada, o que significa o assumir da derrota, ou quando um dos animais é irreversivelmente ferido pelas investidas do seu opositor. Para os habitantes da aldeia vencedora, os momentos que se seguem são de euforia, quase de glória. O seu boi passa a ser quase venerado. O vencido segue em silêncio, a caminho do talho.
Dos tratadores e de quem os acompanha ouvem-se, por vezes, vozes roucas a desabafar, numa raiva incontida: «o boi perdeu, os homens ...veremos». As cenas de violência nem sempre são evitadas, mas felizmente são cada vez mais raras.
Dos tratadores e de quem os acompanha ouvem-se, por vezes, vozes roucas a desabafar, numa raiva incontida: «o boi perdeu, os homens ...veremos». As cenas de violência nem sempre são evitadas, mas felizmente são cada vez mais raras.
Esta tradição, já não é hoje o que era dantes. Apesar dos habitantes destas Terras do Barroso continuarem a vibrar e a manifestar grande entusiasmo com as «Chegas», o boi do povo, já não existe mais, e aquilo que resta, são as «Liadas», comercializadas a troco de alguns euros, levadas a efeito por alguns proprietários individualmente considerados, que fazem desta actividade, o seu «ganha-pão». Dos tempos de outrora, resta a nostalgia.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra Minha Gente")
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