Como é sabido, quando a conquista romana da Peninsula Ibérica se inicia, em 218 A.C., com o desembarque das tropas de Cneu Cipião em Ampúrias, na actual região de Barcelona, já a Peninsula era habitada por diversos povos. E naquele que viria a ser território português, a norte do Rio Douro e nas imediações da zona, onde hoje se situa a freguesia, encontravam-se os Calécios, que haviam resultado da fusão de alguns nomadas que por ali passaram e se viriam a fixar, com as populações locais. Deve dizer-se inclusivé, que aquele território – ao tempo parte integrante da Callaecia -, conjuntamente com a Asturia e a Cantabria, foi a última zona do actual território português, a ser conquistado por Roma, nas campanhas de 26 e 25 A.C., isto é, cerca de duzentos anos após o inicio da ocupação romana da Peninsula Ibérica.
A cultura Ibero-Céltica dos Castros, após cerca de um milénio de existência, cedia então lugar ao domínio romano. Todo o periodo que se seguiu, trouxe consigo, além das transformações politicas, administrativas e culturais, uma profunda modificação no regime de propriedade. De facto, com o deslocamento das populações castrejas, onde dominava a propriedade comunitária, para as terras mais férteis dos vales, ocorreu uma ocupação individualista do solo, bem típica aliás, da civilização romana, presumindo-se ser este o momento, que como consequência de tal, os aglomerados populacionais de Cimo de Villa e Bárrio, se tenham fundido, naquela que hoje é a Aldeia de Gralhas.
A língua, as letras e os costumes, foram outras das heranças que a civilização romana deixou por toda a região de barroso e consequentemente por Gralhas, aos quais se pode juntar, a actual estrutura paisagistica, assente numa economia de subsistência, designadamente no que diz respeito às culturas agricolas, em que o gado, é a principal fonte de riqueza da população residente.
Estes factos, tiveram como consequência, uma radical transformação na economia local, até então essencialmente pastoril, transformando-a numa economia predominantemente agrícola. A principal consequência desta transformação, resultou num progressivo enfraquecimento do regime comunitário, que até então vigorou, o qual apenas viria a ser restabelecido, a partir dos princípios do século V da nossa era, quando das invasões dos povos germanos, constituídos por Vândalos, Suevos e Alanos, no ano de 409.
Para além do que já foi referido, da cidade romana de Grou, que constitui um autêntico cartão de visita desta zona, e se situa, algures entre a actual aldeia de Gralhas e de Santo André, e da via romana de ligação entre Braga e Chaves, que saindo daquela cidade bracarense, passava por diversas povoações dos actuais concelhos de Vieira do Minho e Montalegre, designadamente, Codeçoso do Arco, Porto dos Carros, Lama do Carvalhal, Currais, Subila, Breia Gia a sul de Ladrugães, Friães, Pisões, Cruz do Leiranco, Penedones, Travassos da Chã, S. Vicente, Peireses, Codeçoso, CIADA (ao tempo conhecida por Caladuno e actualmente situada na zona envolvente de GRALHAS), Solveira, Soutelinho, Castelões, Seara Velha, Pastoria, Casas dos Montes, até atingir a cidade flaviense, pouco mais se conhece da herança deixada pelos romanos, por estas paragens.
Restam nas redondezas, alguns Marcos Miliários – os chamados monólitos cilindricos -, que assinalavam de mil em mil metros, as respectivas distâncias, indicando alguns deles, os nomes, a filiação, os cargos exercidos e os títulos honoríficos dos imperadores de Roma. Sabe-se, que a introdução dos marcos miliários, nas vias romanas,datam do ano de 183 antes da era Cristã. Que são do tempo de Caio Graco e que em zonas próximas de Codeçoso do Arco, Pisões, Antigo de Arcos e Cervos, foram encontrados alguns exemplares, constando num dos existentes nesta última freguesia a inscrição: «Tibério César, filho do Divo Augusto, neto do Divo Júlio, Augusto, Sumo Pontífice, 8 anos imperador, 5 anos cônsul, 34 anos do poder tribunício. A Braga, 59 000 passos», facto que prova de forma inequívoca e à distância de mais de 2 000 anos, a forte presença da civilização romana, nesta zona. Os ditos marcos, quase todos desapareceram. Alguns, como os acima referidos, foram levados para Braga onde se encontram, outros, foram destruídos pelo passar impiedoso do tempo, e outros ainda, foram até utilizados na construção de casas ou de muros de propriedades rurais, como é o caso de dois exemplares, do tempo do imperador César Augusto, já do ano 44 da era cristã, que «enfeitam» a parede do forno do povo de Sanguinhedo.
(Extracto do livro "Gralhas-Minha Terra, Minha Gente")